Kobe: Experiência Única no Japão I

Guia de Kobe para o turista português

Kobe é uma cidade japonesa com muitos pontos de interesse, e será uma visita agradável para todo o tipo de turistas, de qualquer nacionalidade. Contudo, neste artigo vamos focar-nos nos aspetos que eventualmente interessarão mais ao turista vindo de Portugal. Se não sabe como Kobe é importante para a sua experiência do Japão, fique a saber já a seguir.

Localização e Acessibilidade

Kobe é uma cidade a oeste de Osaka, igualmente voltada para a baía, e se o seu voo ou percurso no Japão passar por Osaka aproveite para dar um pulinho a Kobe. Fica a 30 minutos de carro ou 45 minutos de transportes públicos. Se tiver o passe Japan Rail e puder fazer luxos de shinkansen para tão curta distância, então fica a 15 minutos!

Ambiente e Cultura

Kobe é uma cidade muito diferente de Tóquio ou Osaka, e a curta distância desta última, por isso se visitar Kobe tem a oportunidade de ver uma cultura metropolitana totalmente única. Sendo uma cidade cujo crescimento económico e social se deveu ao comércio internacional, em Kobe pode encontrar ambientes ecléticos, inspirados na Europa e no período áureo de relação entre o Japão e o Ocidente: a era Meiji e Taisho. Kobe também apresenta algumas características exclusivas ao nível do património cultural, tanto material como imaterial, através dos seus museus e instituições, mas sobretudo através dos seus habitantes e estilo de vida.

Cidade voltada para o mar

Kobe é realmente uma cidade voltada para o mar, e o seu coração começou a bater precisamente no porto comercial. Mesmo antes dos mercadores portugueses chegarem ao Japão, já em Kobe se trocavam porcelanas e sedas da China, sendo um dos poucos portos japoneses com autorização de trato internacional. Depois, durante o período de apertado controlo que caracterizou o Shogunato Tokugawa, a área de Kobe ficou dividida entre três regiões administrativas, permitindo assim uma maior flexibilidade quanto à legislação e sua aplicação, redes de negócio e seus proveitos. Prova disso é a elite mercantil nativa, que não parou de crescer. Em 1868 o comércio internacional voltou a ser plenamente legal nos portos japoneses, e Kobe viveu o seu melhor período, sendo escolhida como cidade-das-embaixadas. Assim, as suas colinas encheram-se de mansões de estilo ocidental, as suas ruas de línguas de todos os sabores, e a sua vida cultural de uma ampla paleta de influências. Para os intelectuais japoneses entediados com a burguesia de Tóquio ou a aristocracia de Quioto, Kobe era o mais perto de uma autêntica metrópole mundial a que podiam almejar.

Energia inesgotável

Kobe sofreu grande destruição em dois momentos da sua história: durante a Segunda Guerra Mundial (no raid de 1942 e de novo no de 1945) e no terramoto de 1995. No primeiro caso, entre 20 a 25% da cidade foi arrasada e mais de oito mil residentes pereceram. A catástrofe natural de 1995 deixou cicatrizes ainda mais profundas, tanto na cidade como nos seus habitantes, e acabou com o longo reinado do porto de Kobe no primeiro lugar de todos os portos da Ásia. Depois da reconstrução e revitalização da área baixa da cidade, o porto de Kobe voltou a sedimentar-se no topo, mantendo um estável quarto lugar no Japão. Os seus habitantes não mudaram o seu modo de ser, simultaneamente energético e tranquilo, erudito e recetivo à novidade, prático e com olho para o negócio. A cidade alberga hoje mais de 44 000 residentes estrangeiros (maioritariamente da China, Coreia, Vietname e restante Ásia, mas também Americanos e Europeus), incorpora mais de 100 companhias comerciais do sudeste asiático, tem o seu próprio aeroporto (apesar de Osaka ser já ali ao lado), e é sede de 18 instituições de ensino superior (incluindo públicas e privadas) e 17 escolas de língua japonesa para não-japoneses.

Se não pode ir a Paris, vá a Kobe

Esta frase é a tradução direta de uma expressão popular japonesa e mostra bem como Kobe conquistou o seu lugar no pódio cultural. Devido à sua forte ligação com as tendências da moda, música e arte do Ocidente, Kobe tornou-se o lugar onde os japoneses da Era Meiji espreitavam para a Europa, e ao mesmo tempo onde forjavam a sua própria versão da modernidade. Contudo, não quer isto dizer que Kobe é “menos japonesa” ou que a sua experiência será “menos autêntica”. Pelo contrário, Kobe é uma das poucas cidades japonesas que exemplifica plenamente a atitude fundamental japonesa de fascínio crítico. Apesar de parecer um paradoxo, na verdade o período da história do Japão que sucedeu à Revolução Meiji e antecedeu o período da Segunda Guerra Mundial foi um tubo-de-ensaio do que poderia ser o futuro no arquipélago nipónico. Depois de um longo período de ínfimo contacto com o exterior e extremo desenvolvimento da cultura endógena, a produção cultural do Japão expandiu-se grandemente nos pontos em maior contacto com tudo o que era novo e diferente (aliás, à semelhança do efeito do século XVI, no qual Portugal teve um importante papel). Mas essa expansão não foi acrítica, não se tratava de mera cópia. A literatura, moda, música e toda a arte do Japão expressava-se com ferramentas novas mas alma milenar. Em Kobe, na atitude das gentes, nos lugares do património, nos museus e até no modo de consumo e estilo de vida, podemos testemunhar a identidade de um Japão que sempre esteve ligado ao “internacional”; por oposição a Tóquio, onde o poder governativo esmagou essa frescura, ou Quioto onde a aristocracia sufocou essas influências.

No próximo artigo, que pode ser acedido aqui, apresento-lhe um percurso sugerido para passear nesta cidade e descobrir os seus encantos.

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